O FEMINISMO ÉTICO NO CONTEXTO DO UNIVERSALISMO KANTIANO

Este trabalho analisa, a partir do ponto de vista do feminismo ético, a complexa representação do feminino nos domínios antropológico e moral da filosofia de Kant. Investiga-se a ambivalência presente na obra do filósofo, confrontando as interpretações que o acusam de perpetuar a desigualdade de gênero com aquelas que defendem o potencial de sua ética universalista para fundamentar o feminismo ético. Primeiramente, contextualiza-se a visão de gênero na Europa moderna, marcada pelo confinamento das mulheres ao âmbito privado e pela posição hierárquica dos gêneros. Em seguida, analisa-se as posições que sustentam que o pensamento de Kant se opõe à representação do feminino e resulta na incapacidade civil e moral das mulheres. Considera-se, na sequência, a posição que, destoando dessa visão, assegura que a teoria moral universalizante de Kant, essencializada no imperativo categórico, é cogente para questionar as mais diversas estruturas de poder que sustentam a desigualdade de gênero e pode ser de grande ajuda na fundamentação de um feminismo ético. Com isso, chegou-se ao resultado de que, embora suas considerações antropológicas estejam limitadas por seu contexto histórico e sejam hoje insustentáveis, a filosofia moral de Kant fornece elementos essenciais para a formação de um feminismo ético e para a superação da inequidade de gênero.