O CUIDADO A PESSOAS EM USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: AVANÇOS, RETROCESSOS E DESAFIOS

A composição da Rede de Atenção Psicossocial como estratégia de institucionalização das reivindicações do movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil demarcou a inversão da lógica do modelo de caráter asilar/manicomial, centrado no paradigma biomédico e na racionalidade hospitalocêntrica, para o modelo de cuidado de base territorial e comunitária, pautado no paradigma psicossocial, na humanização, na liberdade e no respeito aos direitos humanos. Nesse sentido, o presente capítulo focaliza os avanços, retrocessos e desafios intrínsecos ao processo de organização dos serviços comunitários voltados ao cuidado de pessoas em uso de álcool e outras drogas, tendo como foco o período de 2001-2019. Para tanto, realizou-se levantamento bibliográfico e análise de normativas emanadas pelo governo federal e de documentos oficiais do Ministério da Saúde. Entrementes, considerando-se as reviravoltas paradoxais que a história dá e a situação política anômala vivida no país desde o golpe de 2016, a tessitura do cuidado a pessoas em uso de álcool e outras drogas implica permanente resistência ao desmonte da Rede, ao passo que convoca a clínica a alargar sua mirada, extrapolando a dimensão química, para que consiga olhar para a historicidade de indivíduos e da sociedade, valorizar a geografia afetiva dos usos e ampliar as possibilidades de intervenção por meio do enfoque da redução de danos.