ARQUEOLOGIA E ETNICIDADE, UMA RELAÇÃO POSSÍVEL?: OS EXEMPLOS DA CASA DA TORRE DE GARCIA D’ÁVILA

Nascida dentro de um contexto da formação histórica dos Estados Modernos, a Arqueologia, enquanto disciplina, se viu inicialmente influenciada pela ideologia de grupos dominantes e por visões monolíticas e normativas do passado, entendendo que os registros arqueológicos eram meros reflexos passivos das atividades humanas. Concepções como a de sociedades culturalmente homogêneas e o uso de narrativas lineares, a Arqueologia lançou mão das semelhanças e das diferenças entre os artefatos para elaborar conceito de “culturas arqueológicas”, indicando de forma mecanicista a presença de um determinado grupo étnico no tempo e no espaço. Entretanto, com a chegada das teorias sociais, trazida pelo movimento pós-processual, importantes reflexões sobre o assunto começaram a emergir, demonstrando que a etnicidade possui uma dimensão êmica e altamente subjetiva. Esses novos aportes evidenciaram aos arqueólogos que estabelecer associações diretas entre artefatos e uma determinada identidade étnica é algo arbitrário e enviesado, mesmo em contextos nos quais há uma maior diversidade de fontes para além do registro arqueológico, como dados etnográficos e fontes documentais. Neste capítulo, procura-se estimular uma maior discussão sobre o assunto, a partir de uma contextualização histórica do tema na disciplina, a menção de alguns estudos no Brasil e apresentar com maior detalhamento, o caso da Casa da Torre de Garcia D’Ávila, considerada a maior propriedade rural da história do Brasil e como os artefatos analisados foram interpretados sob a luz das reflexões atuais sobre o tema.