A PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA BRASILEIRA

Code: 241218451
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Título

A PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA BRASILEIRA

Autores:
  • Alessandra Cecília de Paula Oliveira

  • Fernanda Tomiotto Pelissier

  • Talita Gianello Gnoato Zotz

  • Solena Ziemer Kusma Fidalski

DOI
  • DOI
  • 10.37885/241218451
    Publicado em

    20/02/2025

    Páginas

    95-108

    Capítulo

    7

    Resumo

    Idealizada a partir de um movimento em defesa da aplicação da epidemiologia clínica na condução da prática médica, a Prática Baseada em Evidência (PBE) representou uma mudança de paradigma em duas frentes. Primeiramente na frente assistencial, ou seja, na forma como os clínicos percebem e conduzem a prática médica. Em segundo lugar, em nível pedagógico, influenciando a forma como os profissionais de saúde são ensinados durante sua formação acadêmica (Faria; Oliveira-Lima; Almeida-Filho, 2021). Esta prática surgiu no final do século XX, no Canadá, época em que estudiosos do campo da epidemiologia clínica identificavam déficit no uso das pesquisas científicas na prática da medicina. Dessa forma, observava-se que os profissionais estavam vulneráveis às práticas não científicas, embasadas na intuição, na experiência profissional, na opinião de colegas ou especialistas e no raciocínio fisiopatológico. Tal situação provocava impacto na qualidade da assistência e nos custos dos serviços de saúde (Guyatt, Cairns, Churchill, 1992). Conforme Rosenberg e Donald (1995, p. 1122), os efeitos dessa lacuna entre evidência e prática podem promover a oferta de práticas com “alto custo, inefetivas ou até mesmo prejudiciais”. Assim, como nova forma de cuidado, a PBE atribui menor valor a informações trazidas por autoridades no assunto, especialistas e colegas, pois podem estar fundamentados em opiniões enviesadas ou errôneas (Straus et al., 2019). O primeiro conceito bem estabelecido de PBE foi trazido por Sackett et al. (1996), como sendo o uso consciente e criterioso da melhor evidência disponível na tomada de decisão, integrado à experiência profissional. Alguns anos mais tarde, a participação do paciente no momento da decisão clínica foi reconhecida como outro pilar fundamental da PBE, estabelecendo-se então o que seria conhecido como o tripé da prática baseada em evidências: melhor evidência disponível, experiência profissional e valores e preferências do paciente (Haynes; Devereaux; Guyatt, 2002). Para o profissional fazer uso de evidências em sua prática clínica, Melnyk et al. (2010) destacam como ponto de partida ter um espírito questionador. O indivíduo que não considera a necessidade de informação atualizada para rever suas práticas constantemente não está apto a implementar a PBE. Partindo deste pré-requisito, a PBE pode ser devidamente construída, através da concretização de cinco passos: 1) formulação da pergunta clínica; 2) busca sistemática pela melhor evidência; 3) análise crítica da evidência em sua validade, relevância clínica e aplicabilidade; 4) aplicação dos resultados na prática; 5) avaliação da performance (Dawes et al., 2005). Em contrapartida, para que a PBE possa ser adotada plenamente como abordagem de cuidado é primordial que o profissional possua competências essenciais (Albarqouni et al., 2018) e esteja imerso em um ambiente favorável para seu desenvolvimento (fatores organizacionais) (Paci et al., 2021). Tais competências englobam o entendimento sobre os princípios da PBE e habilidades para conduzir todos os seus passos com autonomia (Saunders et al., 2019). Da mesma forma, é imprescindível que o profissional apresente atitudes, comportamentos e opiniões positivas em relação à PBE (McEvoy; Williams; Olds, 2010), buscando minimizar suas incertezas e revendo suas práticas constantemente de forma a incorporar em contextos reais o conhecimento adquirido por meio da literatura científica (Hansson; Carlsson; Fange, 2021). Desde o final da década de 90, um grande repertório de estudos tem sido conduzido para identificar as habilidades, conhecimentos, atitudes e opiniões dos profissionais de saúde em relação à PBE pelo mundo, bem como verificar quais as principais barreiras que estes indivíduos encontram na implementação desta prática. Apesar destes estudos identificarem profissionais receptivos aos conceitos e concordantes com a importância da PBE, eles apontam problemas na sua implementação (Silva et al., 2014; Ruano; Motter; Lopes, 2022; Saunders et al., 2019). Tais problemas podem ser decorrentes da interposição de barreiras individuais e organizacionais enfrentadas pelos profissionais no desenvolvimento de suas práticas. Portanto, parece essencial primeiramente avançar nas competências em PBE pelos profissionais de saúde, agregando conhecimentos e habilidades na condução de seus passos (Dawes et al., 2005; Saunders et al., 2019). Entretanto, estudos mostram que apenas a superação de lacunas de conhecimento e habilidades em PBE parece não ser suficiente para a mudança de atitudes e de comportamentos na prática, pois estes são influenciados diretamente pelo contexto, o qual envolve vários aspectos como suporte organizacional consistente, colaboração entre colegas e oportunidades de conduzir a PBE na rotina de trabalho de maneira fluida, contínua e facilitada (McEvoy; Williams; Olds, 2010). Dawes et al. (2005), ressaltam que atitudes são muito mais adquiridas do que aprendidas, justamente destacando a importância de estar imerso em um ambiente que propicie a adoção da PBE para o desenvolvimento de comportamentos favoráveis a esta prática.

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    Palavras-chave

    Prática baseada em evidências; Atenção Primária; Brasil

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