"NOSSO CORPO NOS PERTENCE?": A EXPERIÊNCIA EMOCIONAL DE MULHERES QUE PROVOCARAM A INTERRUPÇÃO DA GESTAÇÃO

Embora, na contemporaneidade, a mulher não esteja mais exclusivamente associada à maternidade, o direito à interrupção voluntária da gestação segue sendo vedado à ela. Objetivo: Neste trabalho, objetivou-se investigar a experiência emocional de mulheres que haviam interrompido clandestinamente as suas gestações. Método: Para tanto, foram realizadas entrevistas individuais com 10 mulheres, sem filhos, que haviam recorrido ao aborto clandestino após se descobrirem grávidas de forma não planejada. Foram realizadas entrevistas individuais, psicanaliticamente orientadas, que foram mediadas por um recurso mediador dialógico: a narrativa interativa. Após cada entrevista, foi redigida uma narrativa transferencial pela entrevistadora. O conjunto das narrativas transferenciais foi analisado segundo o método psicanalítico. Resultados e discussão: Foram identificadas duas categorias: 1) “Crime e castigo”, referente à persecutoriedade e ao desamparo experienciados durante o procedimento de aborto inseguro; e 2) “Cem anos de solidão”, equivalente ao sentimento de permanente solidão, experienciado nos meses/anos pós a ocorrência do aborto provocado, em função da impossibilidade de compartilhar sobre o ocorrido com o entorno. Conclusão: Espera-se, a partir desse estudo, contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas que efetivamente assegurem os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres que, por terem os corpos legislados, carecem de autonomia sobre eles.